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Reflexão

Abrace as suas vergonhas

Eu confesso que tenho várias roupas de estimação. E com certeza você também tem aquela peça de vestuário preferida, que pode até mesmo ser antiga, mas sente ojeriza ao pensar em se desfazer dela. No meu caso, o que me mata de vergonha é que a minha roupa de estimação preferida é uma blusa de campanha política de um ex-governador mineiro — que me recuso a dizer quem é publicamente —, e que provavelmente deve ter uns 20 anos de existência. Mas eu amo aquela blusa e não existe roupa mais confortável que ela. E essa culpa de gostar de algo considerado bizarro acontece comigo com várias coisas, são os meus guilty pleasures.

Minhas vergonhas

Caso você não tenha entendido, a expressão guilty pleasures é utilizada para se referir aos nossos prazeres culposos. São coisas que gostamos e que muitas vezes são inconfessáveis, já que podem ser socialmente questionáveis, indo contra a como você normalmente se comporta ou transparece para o mundo. É, basicamente, o medo de passar vergonha com você mesmo em relação às coisas que você gosta.

Falando assim, acho que eu posso me considerar a rainha dos prazeres culposos. E por quê? Bom, eu sou apaixonada por música latina, por exemplo. Desde o rock folclórico do Café Tacvba, até o reggaeton do Maluma. Até aí tudo bem, certo? Mas o motivo que me fez começar a gostar desse estilo musical é onde mora a minha vergonha: novelas mexicanas. Eu posso dizer de cabo a rabo sobre quase todas as novelas mexicanas que passaram no SBT nos anos 90/começo dos anos 2000. Novelas da Thalía? Assisti a todas. A Usurpadora? Acompanhei todas as reprises. Novelas infantis? Sei as músicas de cor até hoje. Como diria Glória Maria, “é horrível, mas ao mesmo tempo é bom”. Eu adoro um dramalhão.

É por causa dessa cultura que fui completamente fascinada por RBD (sim, o grupo mexicano da novela Rebelde: das gravatas vermelhas, tatuagens no rosto e estrelas na testa). Fui fã de ter todos os CDs e DVDs, de ir a todos os shows que tiveram em Belo Horizonte, de saber todos os detalhes de cada integrante. Em resumo: eu até aprendi a entender e falar um pouquinho de espanhol por conta de toda essa influência latina.

E tem mais vergonha na minha conta quando o assunto é música. Quem me conhece sabe que eu não curto muito sertanejo (Gustavo Lima, arrocha e afins pra mim são como enfiar uma faca no ouvido infinitas vezes). Mas eu tenho que dar um braço a torcer, pois alguns cantores e cantoras do gênero são ótimos músicos e tem um vibrato gostoso de ouvir… apesar das letras sofríveis. Então sim, às vezes eu gosto de ouvir Marcos e Belluti ou Jorge e Mateus. Até me arrisco a ouvir algumas músicas gospel pela técnica vocal dos cantores ou cantoras. Parece que já posso aposentar minha carteirinha de gosto musical invejável, certo?

Além de música, tenho uma predileção por comédias românticas. Meu irmão, o Marcos, aqui do blog, define certos tipos de filmes como “filmes de Marcella”. São aquelas comédias românticas super clichês, com atores como Freddie Prinze Jr ou Reese Witherspoon no elenco e uma sinopse bem manjada. E não só filmes, como romances românticos também. Nicholas Sparks, Nora Roberts, Judith McNaught e por aí vai.

Outro exemplo que pode chocar muita gente é meu apreço por esses vídeos de remoção de cravos que são famosos na internet. Para mim é relaxante de acompanhar. Tenho até uma profissional preferida, a doutora Sandra Lee, mais conhecida como Dr. Pimple Popper. E ela fez tanto sucesso na internet que até tem um programa no canal TLC hoje em dia.

Ligue o foda-se

Se eu for listar todos os meu prazeres culposos, acho que morreria tentando. Mas se tem algo que aprendi é que o legal de esconder esses gostos da maioria das pessoas é encontrar gente que te entenda (e te aceite) e que compartilhe a mesma paixãozinha secreta com você. É sentir aquele quentinho no peito de ver que você não está sozinhx nessa odisseia de curtir coisas com qualidade duvidosa. E você acaba ligando o foda-se para os outros e aproveitando algumas situações: minha melhor amiga se tornou minha amiga porque compartilhávamos, lá em 2006, a mesma paixão por RBD. E somos amigas até hoje.

Mas e você? Já parou pra pensar quais são os seus guilty pleasures? É bom refletir sobre isso, porque é uma forma de se autoconhecer, de encontrar em você algo que te faz diferente do resto do mundo ou o que te torna igual a muitas pessoas das quais você nunca imaginou ter algo em comum. E o principal: são coisas que te fazem bem, te trazem felicidade. Então vai um conselho: abrace as suas vergonhas, pois são parte do que te faz ser você. E isso é o que nos faz incríveis, não é mesmo?

Tags : culpafelicidadeguilty pleasuresprazeresvergonha
Marcella Oliveira

The author Marcella Oliveira

Formada em Publicidade, Marcella caiu de paraquedas no Jornalismo e acabou se apaixonando por ouvir e contar histórias. É uma seriadora assídua e uma gamer de araque (prefere assistir a jogar). Almeja dar a volta ao mundo, mas antes quer desbravar esse "Brasilzão de meu Deus".

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