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Crônica

Como dar tchau?

Tchau. Como dar tchau? Sempre achei que escrevia essa porcaria da forma errada. O que mais na língua portuguesa escrevemos com ‘tch’? Atchim? Tchê? Alguma outra palavra? Sei lá, de cabeça só lembro dessas. A coisa piorou quando li ‘xau’, ‘tiau’ e variações em livros por aí. Cresci amargurado, mas mantive meu tchau.

Aí, agora, invento de pesquisar. Sérgio Rodrigues, escritor e crítico literário, ensina que nosso tchau veio do ‘ciao’ italiano, forma de despedida e também de cumprimento. Uma redução de ‘Io sono suo schiavo’ — eu sou seu escravo [?]. Como é que se declarar escravo de alguém pode ser uma forma de cumprimento ou despedida? Não soa como algo bom. É como dizer obrigado. Sempre me intrigou. Peço um copo d’água e de repente sou obrigado. Se fosse pagar as dívidas por todas as vezes que me declarei obrigado a alguém, nossa. Enfim, estou divagando.

Tchau. Até logo. Espero te ver de novo. Não some. Sou seu escravo. No momento, qualquer uma dessas expressões pode servir de exemplo. Há um peso absurdo entranhado em cada uma delas. Tenho feito um esforço hercúleo para dizê-las. Constatei que despedidas são pequenos atos de desespero, pequeninos lembretes de seda sobre nossa finitude. E ser finito, cara, é uma merda.

Tags : crônicahumorliteraturareflexãorelacionamentostchau
Marcos Marciano

The author Marcos Marciano

Marcos Marciano é um ser humano amador. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, lê livros por esporte e escreve por falta de vergonha na cara. Ainda não sabe por que a Débora resolveu se casar com ele.

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