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Reflexão

Medo da opinião dos outros: aprenda a ser livre e a se priorizar

Se você já deixou de fazer ou fez algo ponderando o que os outros iriam pensar a seu respeito, te dedico esse texto. O medo da opinião dos outros é um tema central na vida de muita gente, motivo para que várias pessoas busquem soluções na terapia.

Eu já estive dos dois lados e afirmo com convicção: é possível parar de ter medo da opinião dos outros. Vou começar te contando um pouquinho da minha história e vamos desembolar o medo desse bicho papão até o final do texto, beleza?

Ah, o bullying

Eu fui uma criança e adolescente muito tímida, zoada na escola pela minha aparência e meu jeito de CDF. Além disso, minha mãe me prendia demais (ela odeia que eu fale isso, mas só trago verdades). Dessa forma, minha socialização da adolescência acabou acontecendo de forma bastante hostil: convivia com muitos colegas maldosos na escola e não tinha liberdade para conviver com os amigos fora desse espaço.

Como eu sabia que era apontada pelos colegas de sala pelas costas, evitava tudo o que pensava que poderia ser motivo para piadinhas. Roupas que eu gostava, mas que poderiam achar estranhas; andar de sandália aberta porque eu tinha vergonha dos meus pés; não amarrar o cabelo porque eu tinha vergonha do meu nariz (ganhei apelidos por conta dele); não ousar muito em cortes de cabelo — a primeira vez que fiz um repicado (que eu tinha adorado, gente!) algumas pessoas me chamaram de “Chitãozinho e Xororó”. Por mais que eu me limitasse, existia falatório.

Cultura familiar de aparências e de comentários não solicitados

Além das vivências escolares que contei para vocês acima, cresci em uma família com um falando mal do outro pelas costas, mas nas fotos estava tudo lindo e todo mundo se amava. Não tenho pudor em falar que eu fazia a mesma coisa, afinal de contas, eu tinha sido ensinada assim. Era impossível fazer um amigo secreto no final do ano sem pelo menos metade das pessoas estarem sabendo quem tirou quem por causa do leva-e-traz de informações o tempo inteiro.

Assim, fui apresentada logo cedo e no ambiente que se supõe o mais seguro que temos na vida ao pensamento maldoso dos outros. Fui apresentada à situação de ver um parente conversando com o outro na forma mais amigável e carinhosa do mundo e logo que a pessoa virava as costas, quem tinha ficado no recinto comentava algo como “Fulano é muito idiota mesmo”.

Como ter certeza se estou agradando? Faça uma nota mental com essa pergunta, vamos voltar a ela depois de conversarmos um pouco mais, certo?

Na vida adulta, a opinião dos outros bate ainda mais forte

Depois de ter passado por essa trajetória, obviamente me tornei uma adulta com várias inseguranças. Um dos pontos marcantes foi em um estágio. Topei uma vaga de atendimento de criança, que eu já sabia que definitivamente não era do meu interesse, porque fui indicada por um colega, queria a bolsa e era na minha abordagem teórica. Comecei a sofrer desde o primeiro dia do estágio e a coisa só foi se intensificando. Gente, eu odiava MUITO esse estágio.

Gastei cerca de 3 meses para sair. Sabe o que ficava se passando pela minha cabeça toda vez que pensava em pedir conta? A voz da minha supervisora falando que era um estágio de muita responsabilidade, o contrato era de 12 meses e ninguém nunca havia desistido antes — sim, ela me falou todas essas coisas na entrevista. E repetia, vez ou outra. Eu pensava que seria a primeira a decepcionar a minha supervisora e isso pesava.

A terapia me ajudou a entender o óbvio que não estava óbvio apenas na minha cabeça: diante dessa situação, a principal decepcionada era eu mesma! E em consequência disso, por mais que quisesse, eu não faria meu melhor trabalho. Ou seja, não era bom nem para mim, nem para minha supervisora e muito menos para a criança que eu permanecesse no estágio. Foi assim que eu saí: sentada em um sofá de frente para a poltrona da minha supervisora, conversando com ela sobre tudo isso que tinha pensado com a voz trêmula e suando frio. Após tudo que expus, ela me parabenizou porque eu finalmente estava sendo assertiva — ela havia me cutucado muito nesses 3 meses para falar alguns nãos para a família da criança, que eu simplesmente não conseguia colocar em prática.

1º estalo: não se pode agradar a todo mundo

Sabe aquela historinha que muita gente fala que nem Jesus agradou a todo mundo? Pois é. Agora é o momento de voltarmos à pergunta: como ter certeza se estou agradando? Só preciso te devolver mais um questionamento antes de prosseguirmos: por que diabos você precisa ter certeza que está agradando? A resposta para isso é bem pessoal. Reflita aí na sua casa ou onde quer que esteja lendo e guarde sua conclusão com carinho. Ou leve para a sua terapia, melhor ainda.

Mas agora vamos responder à questão que eu lancei antes. Você tem mais segurança em saber que está agradando às pessoas ao seu redor se se cercar de indivíduos com valores mais semelhantes aos seus e cuja relação seja o mais íntima possível, a ponto de poder realmente ser pautada na honestidade.

Isso nos leva para o segundo estalo.

2º estalo: não requer esforço se você agrada a alguns naturalmente

Como já falamos, não dá para agradar a todo mundo. Se você está agradando a todo mundo, provavelmente o único desagradado é você. Se para saber ou ter pelo menos mais pistas de que você agrada a alguém, como falei logo ali em cima, é importante que:

  1. Você compartilhe alguns valores (por exemplo: respeito, liberdade, trabalho, família, tolerância, honestidade, etc.) com a pessoa em questão. Isso ajuda vocês a falarem a “mesma língua”. Vou deixar mais claro: para mim, é extremamente importante me sentir livre e uma das formas de fazer isso é viajando. Se estou conversando com uma pessoa cujo valor mais forte seja segurança, ela pode me achar uma louca e desaprovar a quantidade de dinheiro que gasto com viagens, porque eu deveria investir isso na compra de um imóvel. Entende?
  2. Você tenha uma relação com maior grau de intimidade com essa pessoa. Quanto mais íntimo, maior a chance de a pessoa ser honesta com você e vice-versa sobre o que de fato está pensando a respeito de uma experiência ou situação que te envolve.

Vamos pensar juntos: os valores não são iguais para todos e você também não é íntimo de toda pessoa que conhece. Assim, se tentar se encaixar no gabarito de qualquer um que veja pela frente, qual é a consequência óbvia? Você vai se perder. Por isso, não requer esforço se você agrada às pessoas naturalmente. Elas te “aprovam” como você é, sentem-se bem estando ao seu lado da forma como você se apresenta. Isto é, seu jeito “normal” é apreciado. Você deveria se preocupar menos em agradar a todo mundo e se cercar mais dessas pessoas das quais estamos falando.

Um detalhe importante que não posso deixar passar: não é o tempo inteiro que as pessoas vão ficar satisfeitas com você. E tudo bem! Pense comigo mais uma vez: se alguém gosta de você verdadeiramente, não se incomodará com alguns nãos ou pisadas na bola seus porque sabe que a relação tem muito mais embasamento do que só um agradinho aqui ou outro ali.

Principais impactos do medo da opinião dos outros

Compilei alguns dos principais impactos que percebo relacionados ao medo da opinião ou do julgamento dos outros:

  1. Não saber bem quem você é: já falei agora mesmo que você vai se perder se tentar se encaixar ao jeito de todo mundo. É isso mesmo que acontece! Adaptação é uma coisa boa, especialmente se usada com parcimônia. Se descaracterizar não é se adaptar, viu?
  2. Não saber do que você gosta: em decorrência do que foi mencionado acima, pessoas que se sentem muito inseguras com a opinião dos outros têm muita dificuldade em apontar o que gostam de fazer. Passaram tanto tempo se encaixando em outros formatos que não tiveram oportunidade de observar o formato original. E o hábito de buscar esses encaixes é tão arraigado que precisam aprender a fazer um molde próprio.
  3. Dificuldade de fazer escolhas: se você não sabe quem é, o que gosta e está preocupado em ser aprovado na sua escolha por outrem, me conta uma coisa: isso vai dar certo? Você acha mesmo que vai conseguir fazer uma escolha legal com essa bagagem? Primeiro troque suas referências, aponte-as um pouquinho mais para o seu umbigo e depois escolha.
  4. Insegurança após fazer escolhas: se você estiver tentando servir a dois senhores — a si mesmo e a quem quer que seja que esteja tentando agradar — é inevitável sentir insegurança após ter escolhido algo. Mais uma vez, reforço a importância de consertar o referencial dessas escolhas e apontar para o lugar certo: o seu norte.

Como lidar com esse medo?

Contei ao longo da nossa conversa alguns aspectos da minha história. O que me ajudou?

  • Ter sido praticamente forçada a me priorizar (no exemplo do estágio);
  • Ter desenvolvido uma autocrítica sobre a minha história e identificar que meus valores não condiziam com o disse-me-disse de alguns dos meus parentes;
  • Ter feito a terapia para chegar a mais conclusões, como o entendimento mais profundo sobre eu ser a principal prejudicada se estivesse priorizando vontades dos outros.

E o que mais pode te ajudar a começar a ignorar esse medo tão grande da opinião dos outros?

  • Lembrar que a maldade está em quem julga. Quem gosta de verdade vai expor com carinho, respeito e diretamente a você aquilo que pode te sugerir como novos ângulos a serem pensados sobre o assunto que te diga respeito;
  • Lembrar que também pensamos algumas coisas sobre as pessoas e refletir: “qual é o efeito do que eu penso?”. Na maioria das vezes, aquilo que passa pela sua cabeça nem vai chegar até o receptor e não vai fazer mal algum a ele;
  • Lembrar que você está vivendo dentro da sua cabeça. Se tem tanto medo da opinião dos outros, imagino que não saia por aí pedindo-a, não é mesmo? Ou seja, a maior parte do que você cogita que os outros estão julgando a seu respeito é você mesmo pensando. Se é você mesmo, faça-se o favor e tente pensar coisas melhores sobre e para si.
  • Lembrar que quem vai conviver com as consequências das suas ações e decisões 24h por dia, 7 dias por semana, é você! Priorize-se!

Por fim, digo que quanto mais você conseguir agir a despeito do seu medo, mais essa ação se tornará familiar, habitual, até que esse medo dos linguarudos não mais faça sentido. Eu cheguei do lado de cá e posso te garantir: vale a pena demais! : )

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Débora Lopes

The author Débora Lopes

A profissão oficial é psicóloga, mas faz um monte de coisas. Devoradora de livros, maratonista de seriados, mãe de cachorro... Débora é uma jovem idosa que jamais recusa um café com os amigos. Ama viajar, especialmente para lugares frios.