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Crônica

O que a vida quer da gente é coragem

Já achei muito piegas, cafonão mesmo, o papo de buscar uma razão para viver. Todas aquelas comédias românticas com mocinhas desajeitadas e perdidas na vida e que no final, sei lá, abrem o pet shop dos sonhos. Ou todas as músicas pop sobre lutar pelo que nos completa e fazer apenas aquilo que amamos, com clipes coloridos e dançantes.

Já achei que era besteira, só que deixei de achar.

Há tempos tenho escutado um papo de perdição, de pouco propósito para as pessoas. Parece que é só começarmos a pagar contas e pronto: percebemos uma lacuna que não estava ali — ou ao menos aparentava não estar — quando tínhamos espinhas na cara. E não estou falando de comodismo e preguiça. A coisa vai além disso. Primeiro cogitei uma hipótese: a galerinha da minha geração tinha chegado ao limiar do desespero, o não saber se casavam ou se compravam uma bicicleta, algo que nossos avós passaram, que nossos pais viveram e nada mais natural que vivenciássemos também. Meio que perceber que o mundo não é mais pra gente quando assistir a um desenho animado nos faz questionar nossa capacidade cognitiva. E, claro, os boletos que sempre têm data para vencer.

Mas a hipótese ficou de lado quando pessoas bem mais jovens passaram a formar o bolo da desesperança. E ficou pior ainda quando esse monstro opaco e macilento deu a entender que estava estacionado nas costas de muita gente ao meu redor e não tinha intenção de sumir. De onde saiu tanto dissabor? É assim mesmo que tem que ser? Um exército de depressivos num mundo hiperconectado, cheio de janelas e possibilidades para preenchermos a lacuna que descobrimos, mas tão cheio de possibilidades que dá até medo de errar na opção? Alguns preferem nem arriscar.

Não aceito.

O ano de 2018 e o início de 2019 — e todos os anos para frente e todos os outros para trás — ensinaram e ensinarão que se formos meros espectadores da vida, ela vai nos dar com muito prazer infinitas lições sobre como tudo tende à falta de sentido, ao puro caos e por aí vai. Lembro-me que Suassuna disse uma vez que otimistas são bestas e pessimistas são um pé no saco. Bom mesmo, de acordo com o imortal paraibano, é que sejamos realistas esperançosos apesar de toda a desordem.

Mas isso foi Ariano Suassuna falando.

Minha mãe, por sua vez, ao ver o filho melancólico, ao relento, flertando com o emocore e o oblívio, macambúzio, cheio de espinhas na cara, convidava-o para o que ela chamou — e ainda chama — de um abraço de coragem. Glorinha sempre me deu abraços de coragem. Não quero dizer que a solução para esse marasmo tosco que assola muita gente sejam abraços, pois não sou irresponsável. Mas serve para trazer o que um outro imortal, um mineiro, falou para complementar o que disse Suassuna sobre o realismo esperançoso:

O que a vida quer da gente, amigos, é coragem.

Tags : coragemdepressãoguimarães rosajuventudesuassunatristezavida
Marcos Marciano

The author Marcos Marciano

Marcos Marciano é um ser humano amador. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, lê livros por esporte e escreve por falta de vergonha na cara. Ainda não sabe por que a Débora resolveu se casar com ele.

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