Os deuses são jovens e podemos vê-los no arquétipo do adolescente revoltado e que agora tem dinheiro, aquele que nem se lembra mais de quando foi carregado no colo e acaba falando o que todo mundo pensa, mas que a maioria consideraria muito estúpido de se dizer. Ele é péssimo na guerra fria social, não respeita o decoro da convivência. Ele é o que todos nós em algum momento da vida fomos, ou pelo menos é como deveríamos ter sido. Desbanca o que é velho, te deixa menos interessante e goza e esfrega na sua cara que você já era, suas roupas já eram, sua cabeça já era. Em toda oportunidade. O ápice do deleite está na hipocrisia, pois não há nada mais gostosinho que apontar a hipocrisia alheia, com escárnio e plateia e ah, como são hipócritas vocês com mais de 40. Como não puderam acompanhar o resto, ou por quê? Como puderam largar mão de caminhar entre os astros do momento? Eu imagino quais serão as minhas hipocrisias, imagino quem vai ser o filho da puta, aquele primeiro filho da puta que vai revirar o olho para criticar minha visão de mundo, meus entendimentos do que está certo e do que está errado. O meu bom, o meu ruim. Queiram os deuses que eu possa ao menos compreender o futuro sem desespero, sem miséria. Que eu não fuja dos filhos de meus amigos, ou dos netos, porque eu sei que a banda toca para que o clube seja deles, não nosso, como já não é de vocês. Queiram os deuses que morrer sozinho em vida não seja a única alternativa possível que se apresente a cada reunião familiar, profissional ou de vizinhos. Oxalá eu me lembre que estar na crista da onda, distribuindo high fives aos poderosos, é mero privilégio. E os deuses são jovens, e vendem quando dão.
