close
Crônica

Pinheiros de plástico

Odeio essa época de pré-Natal, o cheiro de pinheiros de plástico guardados em caixas empoeiradas. Você está preparado para dormir e vê aquela casa ou apartamento específico piscando, efervescente de luzes vermelhas e verdes — nunca parou para pensar qual é a das luzes piscantes em pinheiros e janelas. Qual é a do boneco vermelho na sacada daquele outro apartamento, um ladrãozinho balançando ao ritmo da chuva de quase todo final de tarde de verão entre os trópicos. Qual é? Por que a sensação de buraco logo abaixo do estômago quando você vê as lojas abarrotadas com sinos dourados, pré-Natal em novembro, e qual é a daquelas bengalas brancas enfaixadas, das moças de maquiagem exagerada ao lado do senhor Papai Noel de barba rala e amarela de tabaco? Qual é a delas com as coxas à mostra no inverno do polo norte — ou melhor, porque essa é foda, qual é a delas ali, todas elas lascívia e maquiagem tirando fotos com crianças, e a três metros do polo norte concebermos o oriente médio com reis magos, burrinho e bebezão Jesus na manjedoura? Você nunca parou para pensar na desproporção de Jesus bebê em cada presépio, muito menos em magia de reis. Qual é? Qual é a desse buraco abaixo do estômago, da falta que você pode sentir daqueles pisca-piscas musicais do Paraguai mas made in China? Pré-Natal em novembro, pinheiros de plástico e daqui a pouco as propagandas de promoção de volta às aulas em livrarias na tevê. Tudo de novo outra vez e lá vem ela, de novo, nossa chuva de verão contra o ladrãozinho na sacada. Cai logo, filho da puta.

Tags : crônicafinal de anoinfânciajesusnatalreflexãovida em sociedade
Marcos Marciano

The author Marcos Marciano

Marcos Marciano é um ser humano amador. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, lê livros por esporte e escreve por falta de vergonha na cara. Ainda não sabe por que a Débora resolveu se casar com ele.

Leave a Response