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Reflexão

Sobre sapatos apertados

Vamos fazer um pequeno teste para começar. Vou te passar dois cenários e aí você pensa direitinho em qual se encaixa, ok?

Cenário 1: normalmente, você passa um bom tempo se perguntando por que fez as coisas desse jeito, ou afirmando para si mesmo que deveria ter feito de outra forma, acreditando que escolheu errado. Fica muito incomodado com o que passou, com como você agiu, com o que você falou. Seu sentimento é de que se fosse possível ficar voltando no tempo para “consertar” tudo, você o faria.

Cenário 2: com frequência você se pega pensando em como serão as coisas, se vai dar tudo certo, o que pode dar errado, como você pode se programar para a vida, para o trabalho, para a sua viagem. Mesmo coisas boas que vão acontecer pela frente lhe geram um desconforto, uma incerteza muito grande, porque você simplesmente não pode saber se vai sair tudo bem mesmo.

E aí, queridos? Se me disserem que nenhuma das duas fôrmas têm o seu tamanho, parabéns! Enquanto eu ainda não falo sobre um terceiro cenário, o famigerado “caminho do meio”, vamos conversar um pouquinho mais sobre o 1 e o 2.

Cenários ansiosos

No primeiro cenário, temos uma pessoa muito voltada para o passado. Nunca está satisfeita, porque sempre acha que poderia ter feito melhor. É alguém que pode se ver com um filtro negativo de que sempre pisa na bola. Se você sempre enfia o pé na jaca, qual a diferença que fazer uma escolha pode trazer? Por que não jogar uma moeda e decidir no cara ou coroa, já que você vai escolher errado de toda maneira?

No segundo cenário, podemos identificar uma pessoa voltada para o futuro. Essa é a pessoa que não acredita que as coisas podem dar certo sem tantos percalços. Precisa se precaver para cada pequeno item da lista de “coisas que podem dar errado”. Está preocupada se vai agradar, se vai chegar a tempo, se receberá uma crítica. Se a preocupação vai continuar muito incômoda. Pra que se preparar então? Não é mais fácil simplesmente chegar lá e fazer o que dá?

As duas situações têm em comum uma coisa: o tempo deslocado. Ou para frente, ou para trás. Nenhuma dessas pessoas estão pisando no aqui e agora. Outro ponto que os contextos têm em comum: geram muita ansiedade. Ansiedade, como todos os fenômenos psicológicos, é multifatorial. Nessa postagem vou tentar me ater somente à relação com a questão do tempo. Ou é uma ansiedade voltada às possíveis consequências de ações passadas ou é relacionada a como será passar pela situação imaginada num futuro próximo ou distante. Os dois cenários acabam sendo contraproducentes e indo na contramão de uma vida tranquila.

O que de melhor podemos tirar de cada um dos contextos anteriores para criar uma nova possibilidade?

– Com o passado podemos aprender o que deu e o que não deu certo, fazer uma análise, sermos críticos e assim podemos projetar coisas melhores e focar em não repetir aquilo que entendemos que não funcionou bem;

– Com o futuro podemos aprender a preparar a melhor versão do que quer que estejamos fazendo, porém, tomando o cuidado de ir até o limite de uma preparação saudável em vez de ser uma corrida rumo ao perfeccionismo.

Cenário do aqui e agora

Comentei com vocês que falaria sobre um terceiro cenário, o que está entre os dois primeiros. É simples: o presente. Quantas vezes você come realmente sentindo a textura e o sabor dos alimentos? Você caminha pela cidade prestando atenção nas pessoas ao seu redor, nas ruas que você está escolhendo? Quando conversa com alguém, você o faz escutando a outra pessoa ou pensando no que irá dizer quando ela terminar de falar? Você aproveita todos os preparativos de uma festa ou de uma viagem ou fica apavorado pensando só na hora em que de fato essas coisas irão acontecer?

Estar no presente não deveria ser ficar incomodado com o sapato apertado esperando e desejando a hora em que você poderá calçar os chinelos em casa. Estar no presente deve ser viver com sapatos confortáveis que você soube escolher. Vamos esmiuçar alguns fatores para “escolher um bom par de calçados”:

  • Conhecer o seu número;
  • Conhecer as variáveis que podem alterar seu número (fôrma grande ou pequena de acordo com marcas específicas; calçar durante a manhã, quando os pés ainda não estão inchados, pode fazer com que você compre algo menor do que deveria, etc.);
  • Conhecer o formato dos seus pés (se são achatados, finos) para evitar que fiquem “pegando” ou saindo de acordo com o formato do calçado;
  • Poder experimentá-los em um horário em que você estará disponível para realmente escolher seu par de sapatos.

Estar presente

Você viu ali em cima que é importante estar presente na hora de escolher seus sapatos? Estar presente naquele momento evita problemas futuros, como um longo dia de trabalho cansativo somado à dor nos pés. E problemas no passado também, afinal você não vai ficar remoendo a sua falta de habilidade para escolher um bom par de calçados e reclamando consigo mesmo que jogou dinheiro fora. Uma coisa que talvez você não tenha percebido, mas que influencia MUITO a capacidade de viver no presente é o autoconhecimento. Olhe na lista ali de cima quantos itens tem a ver com saber algumas informações sobre si mesmo: seu número, se seus pés incham no final do dia, saber o horário dentro da sua rotina que você tem disponível para fazer uma compra tranquila, e por aí vai.

Na vida é assim também! Quando você realmente conhece as suas habilidades, capacidades e até mesmo limitações, as coisas se tornam mais fáceis e fluidas. Perguntar-se sobre realmente ter se saído bem na apresentação na faculdade deixa de ser importante quando você entende que é, sim, um bom orador, ou que não, você faz apresentações regulares mesmo, e aí é trabalhar mais nas próximas – guarde isso: nas próximas apresentações. Não na que passou, porque ela já passou! – para que saiam melhores. Deixa de ser importante ficar aflito e apavorado porque seu chefe te chamou para conversar mais tarde, porque você já conhece suas qualidades profissionais e as necessidades de melhoria – e já está trabalhando nelas!

Assim, para viver o presente, é necessário estar em paz com o que aconteceu e esperançoso com o que está por vir. É “pisar” no aqui e agora, estar presente. É se conhecer e confiar em si! Recomendo que todo mundo tente agir assim!

Tags : ansiedadeautodesenvolvimentopresentepsicologiarelacionamentossapatossociedade
Débora Lopes

The author Débora Lopes

A profissão oficial é psicóloga, mas faz um monte de coisas. Devoradora de livros, maratonista de seriados, mãe de cachorro... Débora é uma jovem idosa que jamais recusa um café com os amigos. Ama viajar, especialmente para lugares frios.

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