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CrônicaReflexão

Quando a nostalgia vira saudade…

Eu adoro seguir esses perfis engraçados nas redes sociais. Um dos que eu mais gosto é o da Pomba (se você tem um humor “refinado” como o meu, te aconselho a segui-la aqui, aqui e aqui. É sensacional). Um dia, stalkeando o perfil no Facebook, me deparei com outra conta interligada, a Vó da Pomba, que basicamente é a Pomba (o neto) fazendo hora com a cara da avó.

O que me chamou a atenção nesse perfil, além da relação que a Pomba tem com a avó, é o fato de que a senhorinha sofria de Alzheimer. Mas por que logo isso me chamou a atenção? Porque a minha avó (Dona Lia, que se foi em 2015) tinha uma doença parecida. E todo o relacionamento “entre tapas e beijos” que eu vi no perfil, fez com que eu me lembrasse da relação que eu tinha com a minha avó. E se antes era com um ardor no peito de nostalgia, hoje a lembrança é cheia do quentinho cômodo de muita saudade.

Saudade x Nostalgia

Para entender melhor ao que me referi anteriormente, é importante saber que entendo que os dois termos são diferentes em seus significados, apesar de remeterem ao mesmo sentimento de falta/ausência. Acredito que é muita pretensão minha traduzir o significado de saudade, mas prefiro acreditar que saudade é o lado positivo de sentir falta.

De acordo com esta matéria do jornal digital Brasil 247, foram realizados na Universidade de Dakota do Norte (EUA) vários estudos onde induziram o estado nostálgico em alguns participantes, convidando-os a pesquisar a definição de saudade em um dicionário, pensar por cerca de dez minutos em um episódio de sua vida que despertou esse sentimento neles e relatá-lo por escrito.

Como conclusão, os pesquisadores constataram que, longe de aumentar os sentimentos negativos, a saudade intensifica o bom humor, uma vez que ela é baseada em experiências passadas geralmente felizes. “Embora ela surja muitas vezes em um momento em que o indivíduo sente uma emoção negativa (um sentimento de isolamento ou de vazio), a saudade vem aumentar a auto-estima e promover a ideia que a vida é cheia de sentido”, cita a matéria.

É basicamente a mesma definição que o filósofo Mario Sergio Cortella acredita. Em seu livro Viver em Paz para Morrer em Paz, ele nos diz que na vida “nós devemos ter raízes, e não âncoras. Raiz alimenta, âncora imobiliza. Quem tem âncoras vive apenas a nostalgia, e não a saudade. Nostalgia é uma lembrança que dói, saudade é uma lembrança que alegra. Uma pessoa tem saudade quando tem raízes, pois o passado a alimenta. Pessoas que têm nostalgia estão quase sempre às voltas com um processo de lamentação”

Saudade em Nostalgia

Quanto mais velho você fica, a expressão “no meu tempo era muito melhor” faz cada vez mais sentido. Então é claro que existem muitas coisas que me deixam nostálgica hoje em dia. Como lembrar do companheirismo que eu tinha com minha melhor amiga de infância e perceber que, hoje em dia, nossa relação já não é a mesma. Recordar os momentos de quando morava junto ao meu pai e perceber como era bom quando ele chegava do trabalho, se sentava junto a mim na cama e me fazia cafuné enquanto eu estava fingindo dormir. Ou até mesmo algo bobo como pensar que o cenário musical do Brasil no final dos anos 90/início dos anos 2000 era muito, MUITO melhor e não vai voltar a ser o que era antes.

Como para muitas pessoas, em alguns casos, é ainda um esforço tremendo transformar essas lembranças em saudade para mim. E eu acredito que quando é demais, a nostalgia é muito perigosa. É vivermos de passado. Mas o grande desafio é tornar a sua nostalgia uma saudade. O que te faz reviver aquilo que te torna nostálgico? Como transformar essa memória em saudade, em algo gostoso de relembrar?

Lembrar da minha avó por muito tempo foi nostálgico. Porque doía pensar que o tempo em que vivi com ela era melhor do que viver o presente sem ela. Só que hoje, lembrar de quando ela estava aqui é trazê-la para o presente e senti-la mais perto de mim. Lembrar do cheiro, da textura das mãos, do sorriso, do jeito tímido, das broncas e cascudos de quando eu fazia hora com a cara dela, dos biscoitos caseiros que gostava de fazer, das músicas de igreja que ela gostava de cantar… isso me faz matar a saudade que tenho.

E me faz feliz, não triste.

Tags : avónostalgiareflexãosaudade
Marcella Oliveira

The author Marcella Oliveira

Formada em Publicidade, Marcella caiu de paraquedas no Jornalismo e acabou se apaixonando por ouvir e contar histórias. É uma seriadora assídua e uma gamer de araque (prefere assistir a jogar). Almeja dar a volta ao mundo, mas antes quer desbravar esse "Brasilzão de meu Deus".

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