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Reflexão

Quem é você para além da sua queixa?

Hoje eu quero conversar com vocês sobre um assunto mais sério e tenso do que de costume. Vocês sabem que eu sou psicóloga, né? E isso me faz trabalhar com as demandas das pessoas durante toda a minha jornada de trabalho.

Nós psicólogos entendemos que uma “queixa” — ou mais de uma — é o que leva a pessoa a buscar terapia. Queixa, demanda, o termo técnico não importa muito aqui. O que importa é que alguma coisa levou a pessoa a buscar o atendimento. É aquela velha história: alguém não busca terapia por estar feliz e radiante. Essa pessoa tem algo a resolver.

Justamente por conta da minha profissão, como eu disse ali em cima, acabo tendo muito contato com as “demandas” das pessoas. E, para além da Psicologia, também tenho meus relacionamentos pessoais com familiares e amigos, algo que vocês certamente também possuem em algum grau e por isso talvez entendam sobre o que vou dizer.

Já notaram que existem pessoas “carregadas”? Tem gente que fala que fulano é “pesado”, “carregado”, “baixo astral”. O termo aí pode variar bastante. Se você não conhece alguém que seja assim, talvez você seja essa pessoa.

E como elas acabam sendo conhecidas como “carregadas” e “baixo astral? Pela forma intensa e repetitiva que se relacionam com as situações. Sabe aquela pessoa que você pergunta sobre como ela está e de repente ela começa a reclamar — sendo esse um comportamento típico dela? Ou quando você traz algumas sugestões para a tal pessoa, sobre como agir para melhorar, por exemplo, e a resposta dela é invalidar todas as coisas que você falou? E quando ela repete sobre o quanto tudo poderia ser melhor se coisas impossíveis acontecessem? Pois é.

Queria lembrar a todo mundo nesse momento que não estou aqui com intenção de falar mal ou depreciar as pessoas que são assim. Eu quero provocar uma reflexão:

Quem é você para além da sua queixa?

Ou seja, quem é você para além das suas reclamações, dos seus desconfortos, dos seus incômodos?

Imagine um dia da sua vida em que você não teria nada para se queixar. Em que as coisas que você reclama normalmente estão todas funcionando bem e naquele dia especial não são motivo de incômodo. Imaginou? Beleza, então continua aqui comigo. Qual o percentual de vida, de afazeres, de ocupação, te sobra se a gente pega esse dia e remove todas as coisas ruins, o azedume, a reclamação, a queixa? Se a gente tira o azedo, quanto de doce sobra na sua vida?

E aqui vai um aviso: se a sua vida está cinza ou azeda, repleta de queixas e de mal-estar, pense direitinho sobre procurar uma psicóloga ou um psicólogo, ok? Preciso ser cuidadosa, porque eu sei bem — por estudar a Psicologia e trabalhar com isso todos os dias — que uma pessoa ter uma vida difícil, conflituosa, é algo que se forma e se mantém por uma multiplicidade de fatores. Não podemos tratar isso de forma simplista. Seja responsável com o seu autocuidado.

Beleza, agora que dei meu aviso, vamos voltar. Eu te perguntei quanto sobra de doce na sua vida se a gente tira o azedo. Se você chegou à conclusão de que sobra muita coisa, MARAVILHOSO! É assim mesmo que uma vida saudável funciona. É como se fosse uma estrada composta por retas, curvas, quebra-molas e buracos de vez em quando. A vida saudável tem uma predominância de estabilidade, permeada por momentos muito bons e momentos muito ruins e uma variabilidade de intensidade entre estes momentos.

Se sobra “meio doce” quando você tira o “meio azedo” que sua vida é, já temos um sinal de alerta. Agora, se não sobra quase nada de doce quando tira o azedo, é preocupante. A primeira dica é você se manter em terapia ou procurar por uma se ainda não faz. É interessante também pensar e praticar algumas coisas:

– como você pode adaptar sua vida para melhorar as coisas que estão te incomodando?

– como você pode aprimorar a sua comunicação com as pessoas para, sim, falar das coisas ruins e receber acolhimento, mas não transformar isso em um foco único?

– como você poderia diversificar os seus assuntos e melhorar os seus relacionamentos?

– como você pode investir nos seus interesses, naquilo que poderia te fazer bem?

– como você pode calibrar as suas expectativas e cobranças sobre você mesmo pra ser seu próprio parceiro, em vez de ficar parecendo que está o tempo todo torcendo contra seu próprio sucesso?

Eu gostaria de destacar aqui uma palavra que eu gosto muito e uso o tempo todo: ADAPTAÇÃO. Perceba se você não está olhando para sua vida com a rigidez que trava movimentos. Faça esforços para adaptar o que puder e se direcionar a uma vida que vai além das suas queixas!

Tags : psicoterapiaquarentenaqueixarelacionamentosvida em sociedade
Débora Lopes

The author Débora Lopes

A profissão oficial é psicóloga, mas faz um monte de coisas. Devoradora de livros, maratonista de seriados, mãe de cachorro... Débora é uma jovem idosa que jamais recusa um café com os amigos. Ama viajar, especialmente para lugares frios.

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