close
Reflexão

Mr. Sandman, bring me a dream

Às vezes sonho comigo. Nesses sonhos eu posso ver e falar com aquele espectro de mim mesmo. O que refuta a teoria — se é que há mesmo uma teoria — de que não podemos ver nossos rostos nos sonhos. Sei lá. Talvez seja uma coisa um pouco rara, isso eu posso aceitar. Mas podemos sim. Acho que podemos fazer qualquer coisa quando sonhamos.

Há uma outra teoria — se é que há uma teoria — de que só podemos ver coisas que já vimos quando sonhamos. Bem, então ela também refuta a supracitada, porque todos nós vemos nossos reflexos em espelhos. Todavia também não gosto muito dessa, porque nunca vi muita coisa que já sonhei. Posso ter imaginado essas coisas, isso eu posso aceitar com algum esforço.

Hoje tive um desses sonhos. Hoje sonhei comigo mesmo. Estávamos, eu e eu, sentados em cadeiras que talvez tenhamos visto em filmes sobre o Brasil colonial. A sala parecia-se bem com salas que aparecem em filmes sobre o Brasil colonial. Talvez um gabinete, talvez alguns quadros ou uma escrivaninha. Um tapete verde-esmeralda velho sob nossos pés. As cadeiras dispostas de maneira que não nos encarássemos, mas que dessem a impressão de que falar sobre coisas importantes seria necessariamente a única coisa a se fazer. Vestíamos ternos ingleses cinzas, no entanto ele, o espectro, tinha um lenço vermelho estiloso que eu não tinha colocado em um dos bolsos do casaco. Também usávamos coletes. Estávamos elegantes.

Um silêncio pesado no ar. Parecia que ponderávamos várias coisas, ou pelo menos eu também devia estar ponderando. Então o espectro olhou para mim e quase não suportei aquilo. Não tínhamos os mesmos olhos.

— Todos têm um projeto, Marcos — disse o espectro — Eu tenho preguiça, muita, mas muita preguiça. E você?

Aí acordei com a Mentira, minha cachorra, lambendo meu pé direito.

Tags : ideiasmúsicaplanosreflexãosonhos
Marcos Marciano

The author Marcos Marciano

Marcos Marciano é um ser humano amador. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, lê livros por esporte e escreve por falta de vergonha na cara. Ainda não sabe por que a Débora resolveu se casar com ele.

Leave a Response