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Crônica

A valsa dos adeuses

A valsa dos adeuses. Sempre. Li há poucos dias que literatura não é sobre felicidade. Livros, os meus preferidos, falam de solidão, medo, incertezas, melancolia, perdas. Filmes não escapam disso também. Fujo de comédias como dizem que o diabo foge da cruz. E por quê? Acabei descobrindo — talvez perceber seja o verbo adequado, mas tudo bem — que não há empatia quando a mocinha tropeça e cai de cara no bolo de aniversário, estragando a festa da antagonista/namorada do mocinho e assim, por ora, a coitada perde a chance de encantar o rapaz. As pessoas podem rir no cinema, mas o riso é de cada um. Não há aquela vontade ancestral de abraçar quem está do nosso lado, de se perder no quentinho do peito de alguém.

Nó na garganta

Essa vontade só surge quando o nó na garganta é iminente. Aquela coisa que infla do nada e parece dizer “vai, faz alguma coisa, porque cê vai explodir”. Desconfio que é por aí o caminho para saber o que de fato nos torna humanos: o momento pré-explosão de um nó na garganta. E boa literatura é sobre criar esses nós, colocar um grande holofote em cima de nossos momentos e sobre os momentos dos outros, insistir em exemplos daquilo que nos aproxima tanto, mas tanto, que um abraço é o único resultado concebível.

E vou além.

Livros ou filmes bonitos não são felizes. Comédias não são bonitas. A não ser que vocês considerem ‘A vida é bela’ uma comédia, só porque estava na prateleira da locadora ao lado de ‘Os deuses devem estar loucos’. A beleza vem sempre de mãos dadas com a empatia daqueles que ficam. Daqueles que lembram. Daqueles que abraçam e são abraçados. Foi por conta de abraços que pude transformar o adeus para meus avós em uma revoada de andorinhas. Hoje eu tenho um espetáculo quase diário e que de alguma forma traz muita felicidade. Espero que a empatia tenha o poder para fazer o mesmo para vocês todos. Porque a valsa dos adeuses não vai e não pode parar.

Tags : crônicafelicidadefilmesliteraturamortereflexãotristezavida
Marcos Marciano

The author Marcos Marciano

Marcos Marciano é um ser humano amador. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, lê livros por esporte e escreve por falta de vergonha na cara. Ainda não sabe por que a Débora resolveu se casar com ele.

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