Não sei se já contei para vocês — tenho a ligeira impressão que sim — de quando um menino virou um copo de refrigerante em minha cabeça. Era uma das várias festas de aniversário de algum dos filhos dos vários colegas de trabalho do meu pai. Estávamos nós, as crianças, brincando de qualquer coisa e em determinado momento, sem nenhum motivo aparente, o tal menino virou um copo cheio de Guaraná Antártica em mim, empapando cabelo, camisa, calça e meias.
Hoje eu me encontrei com este menino.
Mas ele não se lembrou de mim. Perguntou o que precisava, dei a resposta e cada um pro seu lado. Vida que segue. Foi engraçado, porque a criança que aquele cara barbado foi um dia, com aquele sorriso tosco depois do banho que me deu, está sempre presente em minha cabeça.
Falam que quem apanha nunca esquece, só que eu não tenho e não tive um plano de vendeta. Há quem vá dizer também que eu queira bancar o santo, que não é assim que a banda toca, que me lembro da situação pois doeu demais e que o mundo é cruelzão. Sim, é sim. Cruel pra caralho, mas aquela memória serviu de aprendizado empático.
Toda vez que me vejo em situações de escolha para ação — comigo ou com outras pessoas —, eu tento não ser o menino do refrigerante. Que me chamem de besta. Não ligo.