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Conto

Fofíssima #1

Desliga a internet do celular, olha pra cá, melhor, joga o celular pela janela e olha pra cá. Cê não pode estar conversando com alguém, essa boca Steven Tyler, meus céus, e eu escutando I don’t wanna miss a thing e você com essa boca e esse cabelo, só posso estar num clipe, ou é destino mesmo. Sim, eu sei, claro que você está conversando com alguém, mas tô falando de alguém alguém mesmo, alguém com a sorte de falar com essa boca a três centímetros de distância, meus céus, entre beijinhos rápidos, sabe, entre sorrisinhos e um lençol com cheiro daquelas lojas de gente rica, com camas arrumadas e cheias de almofadas. Então, esse tipo de alguém, espero que você não tenha esse tipo de alguém, porque eu não tenho ninguém. Me apaixono umas cinco vezes por dia, sim, principalmente aqui no ônibus, sim, acho que vai ser especial e que os caras vão sorrir para mim, sim, mas com você seria diferente, porque o Tyler está gritando em meu ouvido e se eu soubesse que você sentaria tãããão perto assim, que boca meus céus, é o Steven Tyler tupiniquim, que cabelo, tem até as mechas aloiradas. Então, se eu soubesse que você sentaria tãããão perto assim eu diria que com. Você. Seria. Diferente. Estou marcando as palavras por causa da força que estou fazendo — quem sabe eu seja telepata? — pra você virar o pescoço e olhar. Para. Mim. Porra. Não levanta, ok, pode levantar, mas olha pra miiiiiiiim, porra. Olha pra cá, sorri pra mim. Não vão acreditar quando eu disser que hoje topei com um Tyler, um deus, e olha esses pulsos, como se chamam os tendões do pulso?, porque, olha, os seus são lindos. Saltados enquanto segura as barras do ônibus, como se chamam as barras?, nem sei, não sei o nome dos tendões, das barras, aliás, olha pra cá e me fala seu nome. Não é Steven Tyler, é? Podia ser. Porra, não dá sinal, onde você mora? Você trabalha por aqui? Nossa, não para, motorista. Steven, não desce, porque você está cantando, o você do meu fone de ouvido está cantando Crazy e dizendo que esse tipo de amor é o tipo de amor que manda um homem direto pra cova e eu morreria feliz agorinha se você virasse pra mim, que boca meus céus e PUTA MERDA VOCÊ TÁ OLHANDO PRA MIM.

Tags : aerosmithamorcontocrônicafofíssimahumormúsicarelacionamentossteven tyler
Marcos Marciano

The author Marcos Marciano

Marcos Marciano é um ser humano amador. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, lê livros por esporte e escreve por falta de vergonha na cara. Ainda não sabe por que a Débora resolveu se casar com ele.

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