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Crônica

A insustentável leveza dos pássaros

Leveza. Se eu fosse um pássaro, cara, eu seria um pardal. Tem gente que escolheria logo uma águia, uma harpia. Eu não. Eu queria ser um pardal. Não há pássaro mais de boa que o pardal. Se eu pudesse escolher, seria um pardal.

Por falar neles, vejam só, já até cuidei de um. Uma pardaloca, aliás. Porque a fêmea do pardal é a pardaloca e vocês não sabiam disso. Ela entrou em meu quarto e não conseguiu sair. Estava machucada. Tentei dar leite — que ideia — e ela obviamente recusou. Dei água e ela virou minha amiga. Dei pão e a partir daquele dia todos os pardais e pardalocas passaram a me venerar no que chamo de a megalomania do Passer domesticus.

Ela foi embora depois de três dias ou três horas. De boa. Senti saudade instantânea. Mas se ela ciscou por aí, se botou ovos, se trinou ao ver o sol nascer em Belo Horizonte, fez tudo isso muito de boa. Se vocês vissem a pequena, garanto, compreenderiam um universo de leveza que às vezes é o que falta numa terça-feira sem feriado prolongado subsequente. Sejamos pardais, recusemos leite, sejamos de boa.

Tags : crônicalevezapardalreflexão
Marcos Marciano

The author Marcos Marciano

Marcos Marciano é um ser humano amador. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, lê livros por esporte e escreve por falta de vergonha na cara. Ainda não sabe por que a Débora resolveu se casar com ele.

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