Há quem fique louco, possesso, ao vislumbrar o final do reto, o esfíncter pulsante, a dobra anal de um gato em seu travesseiro de fronha limpa. Há quem aposte alguns dedos da mão e os perca, assim, num átimo, por fiar que suas cartas são melhores que as do homenzarrão recendendo à catuaba do outro lado da mesa. Há quem tente, persevere, estude e sofra, acreditando que os humilhados serão exaltados em breve, porque a mocinha com 1.2 milhão de seguidores no Instagram disse que exaltada ela é há meses e, vejam só, quer compartilhar a receita do sucesso por posts confusos e hashtags sem contexto. Há quem carregue um peso descomunal e tombe lá no fim, há quem carregue alguns gramas e já desista esgotado com poucas passadas. Todos eles, todas essas pessoas que já existiram, existem e existirão, podem discordar do que chamamos ou não de frustração. Mas, sem sombra de dúvida, com a mais límpida certeza, elas hão de concordar em bloco que não há nada pior — deus nos livre e guarde — do que abrir a geladeira, buscar pelo sorvete e só achar feijão no pote.
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Por que tão cinzas vossos corações?
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Carta de amor em dia quente
The author Marcos Marciano
Marcos Marciano é um ser humano amador. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, lê livros por esporte e escreve por falta de vergonha na cara. Ainda não sabe por que a Débora resolveu se casar com ele.