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Crônica

Memória colorida

Microcrônica sobre memórias e cores, porque você já parou para pensar em qual foi a primeira cor que viu na vida? Eu já. E não sei qual foi. Nem você vai saber, não precisa tentar. Talvez ela seja a nossa cor favorita atualmente, ou talvez você se apaixone por aí porque a pessoa está usando um sutiã com alças amarelas, e amarelo foi a primeira cor que os cones em seus olhos identificaram. Vai saber.

Já tive a teoria — todos temos teorias sobre coisas desimportantes — de que as cores das coisas ficam diferentes de acordo com a época do ano. Um copo laranja em abril não vai ser do mesmo laranja em novembro. Pode ficar com um aspecto mais leitoso, não sei. Tipo aquele laranja no céu às cinco e quarenta da tarde, quando você presta atenção nos contornos dos prédios contrastando com as nuvens e parece que estão brincando com matizes e aplicando efeitos de fotos de smartphones na realidade e tals. Mas a teoria sobre cores que mais aceito agora é outra, porque isso é o legal das teorias: ser livre para trocar por outra que explique melhor alguma coisa à toa. O negócio é que existem cores para memórias.

Memória colorida deste que vos fala

A fumaça azulácea do cigarro que meu pai fumava enquanto dizia com afeto um “e aí, seu bosta?”, num desses intervalos de despresença próxima, e aquela fumaça dançando, quase meio sólida e eu pensando se algum dia deixaria de ser um bostinha e hoje estamos aí. Ou as noites amarelo-bronze por causa das lâmpadas incandescentes e dos móveis da minha avó e os insetos de verão que voavam, e a preocupação com os ouvidos, porque os insetos são burros e entrariam ali para uma morte certa e estúpida. Por aí vai. Cores para memórias.

Em tempo: há um bichinho maravilhoso/horripilante cujos olhos superam os nossos e manjam mais de cores do que a gente, o camarão-louva-a-deus-pavão. Leiam sobre ele.

Tags : corescrônicalembrançasmemóriarelacionamentosteorias
Marcos Marciano

The author Marcos Marciano

Marcos Marciano é um ser humano amador. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, lê livros por esporte e escreve por falta de vergonha na cara. Ainda não sabe por que a Débora resolveu se casar com ele.

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