Ei, meu bem, meu amor. Bebê, minha linda. Hoje o termômetro, aquele de mercúrio na parede da sala, marcou 38 graus centígrados e eu senti uma saudade louca de você. Termômetros e cartas, sou assim, né? Old school, estilo Caetano, voz da Gal. O mundo está acabando e eu longe de seus muxoxos, querendo escutar ou cantar ou compor músicas que toquem nos radinhos de pilha dos vigias, sabe, aquelas com baixos e bateria bem anos 80, MTV de madrugada, sabe? Meu bem, meu amor. Bebê, minha linda, eu estou derretendo, tipo quando você elogiou meus cílios e passou os dedos naqueles músculos em minha barriga, os que apontam para a virilha, sabe? Qual o nome deles mesmo? O mundo está no fim e a gente longe, longe, sem data para abraços e beijos, sem sorvete e sem cama desarrumada. Comprei ontem, meu bem, minha linda, uma máscara que é a sua cara, só para sentir que minha boca fica perto de alguma coisa parecida contigo, entende? Vírus maldito, calor dos infernos. Quem disse, quem poderia imaginar que viver o final dos tempos seria assim, sem você dançando enquanto lava a louça, tomando sustos com pratos dos vizinhos se quebrando? Sabe, hoje o calor é como você de biquíni, mas sem você. Entende? Meu bem, meu amor. Bebê, minha linda. 38 graus e falam que nem é o dia mais quente da semana. Não vou desejar que essa carta te encontre bem, porque imaginar que consegue tal coisa, assim, tão sem mim, é pedir para morrer. Não chore, não se entregue ao desespero. Deixa só o apocalipse, o armagedom, o fim de tudo passar. Aí a gente marca uma piscina, um amor de tempo bom. Do seu, todo seu, mas todinho mesmo, eu.
previous article
Geladeira
next article
Carta de amor em dia frio
The author Marcos Marciano
Marcos Marciano é um ser humano amador. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, lê livros por esporte e escreve por falta de vergonha na cara. Ainda não sabe por que a Débora resolveu se casar com ele.