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Reflexão

Tchau, 2020! Faça boas metas para o ano novo

2020 foi um ano muito pesado de alguma forma para todo mundo. Um ano atípico, que nenhum de nós tinha imaginado viver. Fizemos e estamos fazendo parte de algo que com certeza vai aparecer nos livros de História. Trabalhar com metas dentro desse ano foi muito difícil, pois fomos impedidos de fazer muitas coisas. Os planos saíram do controle. A vida saiu do controle — que nós já temos pouco, por sinal. 

Gostaria de lembrar que a virada do ano não vai fazer tudo ficar bem de forma mágica. É bom segurar as expectativas, ser realista, ser bem pé no chão. Mas ainda assim é possível trabalhar com metas e eu vou te ajudar com isso. No vídeo abaixo eu falo sobre esse mesmo assunto:

Eu considero que ter objetivos, metas, sonhos, desejos, seja lá qual palavra combina melhor com o seu linguajar, é uma coisa muito importante para que você se coloque e se mantenha em uma trilha de desenvolvimento pessoal e/ou profissional. Há maneiras mais e menos saudáveis de colocar essas metas. Pessoalmente, gosto de enxergá-las como referências. De tempos em tempos busco não só conferir se estou caminhando conforme gostaria, mas até mesmo se continuo considerando esse como sendo um bom caminho ou se requer alterações.

O ponto de partida, na minha opinião, é ter uma boa ideia do que é importante na sua vida e do que você gosta. Não adianta fazer o que os outros querem ou o que você pensa que os outros querem. E essa é a dica mais importante:

faça uma lista das coisas que você gosta, que são importantes para você.

Eu colocaria na minha lista coisas como leitura, viajar, estar com meus cachorros, passar tempo com a minha família e com os meus amigos, escrever, estudar e por aí vai.

Depois que a lista do que você gosta e do que é importante para você estiver pronta, é o momento de conferir se precisa acrescentar itens que você sabe que precisa fazer (por exemplo: quitar alguma dívida, renegociar um aluguel, terminar um curso iniciado, trocar algum equipamento que não está funcionando bem, como um computador). Você pode escrever com uma cor diferente de caneta para separar o que está lá estritamente porque você gosta, porque é importante ou simplesmente porque você precisa.

Finalizada a lista que contém os itens mencionados, é o momento de ler novamente e começar a extrair objetivos. Faça isso livremente, sem crítica, sem preocupação. Coloque tudo no papel. Assim que essa prévia dos objetivos estiver pronta, é a hora de arrematá-los para que eles sejam claros, específicos e que te guiem adequadamente para que você consiga cumpri-los. Por exemplo: falar que você quer receber um aumento no seu trabalho é muito vago. Mas dizer que você quer um aumento de 15% no seu salário já começa a ficar um pouco mais específico. O ideal é deixar o objetivo o mais específico e “redondo” possível. Vou te passar 12 passos que vão te ajudar nisso e que foram extraídos de um livro que se chama Modificação do Comportamento, especificamente do capítulo 17: Tirando Proveito do Controle de Estímulos já Existente. Segundo os autores, para ter um objetivo bem delimitado e com maiores chances de ser concluído é importante seguir os 12 passos mencionados abaixo:  

1. Identifique um objetivo específico.

É o que eu disse antes:

Aumento de salário = não específico

Aumento de 15% no salário = começa a ficar específico.

Tente não deixar vago aquilo que você gostaria de conquistar.

2. Tenha certeza de ser um objetivo realista, de que você tem condições de conquistar isso que está se propondo a fazer.

Por exemplo: provavelmente eu não vou começar um caminho no futebol profissional agora com a idade que eu tenho e sem nunca ter jogado bola.

3. Mesmo sendo um objetivo realista, certifique-se de que ele seja desafiador.

Um objetivo que é bobo demais é desmotivador.

4. Identifique comportamentos específicos que vão te conduzir ao seu objetivo.

É importante ter clareza do que precisa fazer para conquistar o que você está se propondo. Por exemplo: se matricular em um curso X.

5. Identifique quais são as circunstâncias nas quais esses comportamentos específicos acontecem, ou seja, as circunstâncias que vão te fazer entrar em ação.

Por exemplo: você terá juntado dinheiro por 3 meses para ter o valor para se matricular no curso X e continuar seus estudos. Isso diz da circunstância em que seu comportamento de se matricular acontece com mais facilidade.

6. Divida o objetivo em etapas.

As etapas são excelentes para evitar a desmotivação e mostrar que o que você quer é possível — lembrando que você já checou no item 2, se seu objetivo é realista. Uma coisa é você falar que vai escrever seu TCC outra coisa é dividir no período de tantas semanas a escrita do seu TCC, tendo parâmetros de até que parte você irá concluir em cada semana.

7. Crie um plano de ação em cima dessas etapas que você já descreveu.

Aí sim você vai colocar dados adicionais, como algumas previsões de resultado a ser alcançado em cada etapa.

8. Estabeleça bem os prazos dentro do seu plano.

Cheque principalmente se são prazos realistas.

Uma dificuldade que as pessoas estão enfrentando no momento e que têm compartilhado comigo nas sessões de terapia é justamente a de colocar alguns prazos, porque ainda vivendo a situação de pandemia, não sabemos bem o que se pode e o que não se pode fazer. Não sabemos se um curso que queremos vai ter turma, se as fronteiras daquele país que se quer visitar estarão abertas e por aí vai.

O que eu tenho sugerido nesse ponto é criar prazos condicionais ou um outro objetivo em cima desse mesmo objetivo original. Vou dar um exemplo com o assunto viagem: vamos supor que eu queira fazer uma viagem internacional em 2021. Como eu não sei se as fronteiras estarão abertas e até mesmo se eu, pessoalmente, vou me sentir segura para fazer essa viagem no ano que vem, posso colocar que “assim que as fronteiras para o país tal estiverem abertas e eu tiver tomado a vacina, viajarei para o país tal”. Ou até mesmo posso colocar que a minha meta é juntar o dinheiro correspondente a essa viagem de 2021 e deixar reservado para quando eu puder viajar.

Deu pra entender? Tem como criar um objetivo, ter uma referência de prazo, mas ainda ter flexibilidade para rever o objetivo ou o prazo associado a ele.

9. Certifique-se de que as pessoas envolvidas no objetivo saibam que elas estão envolvidas, aceitem esse envolvimento e estejam engajadas junto com você.

Vamos supor que você tem um sócio em algum objetivo profissional, ou que você vai fazer um curso que sua mãe vai pagar ou que, no meu exemplo, eu vá fazer uma viagem na companhia do meu marido. É importante que essas pessoas estejam cientes, dispostas e compartilhem engajamento com você. Mas é importante também você não “folgar” em cima de outra pessoa e achar que é responsabilidade dela, tá? O objetivo inicialmente é seu!

10. Tente manter uma forma de controle social.

Geralmente, se comprometer com alguém ou contar para uma pessoa que pode te incentivar, querer saber dos seus resultados, do seu andamento é uma coisa boa. Você pode se sentir incentivado(a) a continuar porque sabe que alguém está esperando ou torcendo por isso.  

11. Mantenha um controle do seu progresso.

Lembra do plano de ação? Com as etapas, com os prazos, com os resultados previstos? Use o plano de ação para colocar uma coluna de monitorando de progresso em direção à conclusão do objetivo. Um espacinho para você “ticar” o que já foi feito, por exemplo. Isso é extremamente motivador. Cumprir uma etapa traz motivação para cumprir a próxima e assim sucessivamente.

12. Programe recompensas pelo seu progresso.

Comemorar que você está seguindo adiante, mostrar para as pessoas que fazem parte do seu controle social (passo 10), se dar um presentinho… São coisas muito boas e que ajudam não só a concluir esse objetivo em questão, mas também a se motivar e se programar melhor para os próximos. É importante lembrar aqui que essas recompensas precisam ser programadas de maneiras que não te atrapalhem, que não te comprometam financeiramente ou na sua saúde. Por exemplo, comer um hambúrguer a cada etapa que for concluída, sendo que você conclui uma etapa a cada 3 dias em média é uma péssima recompensa para a sua saúde e talvez para o seu bolso também.

Bom, agora que os 12 passos foram apresentados, eu queria aproveitar para colocar mais uma coisa que na minha experiência clínica psicológica descobri ser importante e que também pode ajudar: tenha atenção às autossabotagens, faça esse trabalho de identificar onde você pode puxar seu próprio tapete e também tente se certificar de que não está com ninguém torcendo contra o que você pretende fazer ou fazendo força na direção oposta. Depois que fizer esse pente fino, busque entender como você pode segurar sua autossabotagem e como você pode acabar com a sabotagem que vem de fora.

Hoje fico por aqui e desejo que seu 2021 seja melhor do que 2020 foi!

Referência bibliográfica:

MARTIN, Garry; PEAR, Joseph. Seção 3: Considerações e Preliminares sobre Estratégias Eficazes de Intervenção. In: MARTIN, Garry; PEAR, Joseph. Modificação de Comportamento: O que é e como fazer. Oitava. ed. Universidade de Manitoba: Roca, 2009. cap. 17: Tirando Proveito do Controle de Estímulos já Existente: Regras e Objetivos, p. 247-262.

Tags : 20202021ano novoplanejamentopsicologiareflexão
Débora Lopes

The author Débora Lopes

A profissão oficial é psicóloga, mas faz um monte de coisas. Devoradora de livros, maratonista de seriados, mãe de cachorro... Débora é uma jovem idosa que jamais recusa um café com os amigos. Ama viajar, especialmente para lugares frios.

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